Tenho aprendido com a vida, nem sempre de maneira fácil e indolor, que embora as palavras precisem ser usadas de forma correta para serem bem interpretadas e eficazes, o poder do silêncio é, talvez, muito maior do que a força que elas possam ter.
Falar com alguém ajuda, quando o outro está pronto pra receber o que lhe dizemos e disposto a nos ouvir. Quando nos antecipamos a isto, ao invés de ajudarmos, estaremos, sem querer, construindo uma barreira de antagonismo que vai nos afastar ainda mais dele.
Já, ouvir o outro, colocando-nos em silêncio o mais possível, numa atitude interessada e presente, ajuda muito, a qualquer um que de nós se aproxime. Esta atitude constrói pontes entre eu e o meu companheiro de bate-papo. Existe coisa mais confortante do que ser escutado atenciosamente por alguém em quem confiamos?
Aquele que escuta precisa ser humilde o suficiente para compreender e acreditar que todas as pessoas merecem crédito, embora às vezes não pareça. Necessita respeitar as diversas opiniões e formas de viver que existem, num mundo onde cada pessoa é um universo único e rico de experiências nem sempre semelhantes às nossas.
Quem escuta se conserva em silêncio, mas precisa abrir o coração para aquele que está se entregando a ele, na esperança de ser compreendido, aceito e estimulado, muitas vezes.
Assim, falar sempre não nos leva a bons resultados. O silêncio pode tomar o lugar de uma quantidade enorme de palavras que não precisariam ser ditas, ou não deveriam sê-lo, respeitando-se a situação emocional de quem nos fala.
E está tão difícil a gente encontrar alguém que se disponha a nos ouvir... Apenas isto. Muitas vezes precisamos pagar a um terapeuta, para que isto aconteça em nossas vidas.
A beleza do silêncio, a força que se encerra nele, quando vivemos numa sociedade tão barulhenta, tão violentamente ruidosa, é considerável!
Para sermos reconhecidos como pessoas inteligentes, que valem alguma coisa, muitas vezes falamos, discutimos, declaramos o que sabemos sobre os mais variados assuntos e neste falatório sem fim, nos percebemos sustentando opiniões até antagônicas à nossa verdadeira forma de ser, apenas para que inteligentemente possamos ganhar uma discussão... Com o prejuízo, muitas vezes, de uma amizade, que naquele momento se desfaz, ou fica abalada, o que não aconteceria se pudéssemos nos conservar em silêncio.
Silenciar também é uma forma de resposta. Quando seríamos agressivos demais falando, o silêncio nos poupa de dissabores futuros. Sorrindo, no silêncio, podemos acalentar, talvez, muito mais alguém, do que discorrendo todas as nossas teorias sobre qualquer assunto.
E o silêncio está em falta! Em torno de nós, nas nossas vidas, nas nossas mentes que teimam em estar sempre buliçosamente indo e vindo sobre o mesmo assunto, tirando-nos a paz que merecemos para sermos felizes.
Quando li a biografia de Gandhi, uma passagem ficou gravada em mim, como importante. Ele reservava um dia por semana para fazer o jejum das palavras e mesmo quando era convidado por alguém, ou por alguma instituição para se pronunciar naquele dia, se esquivava de fazê-lo, para não quebrar a sua disciplina, considerada por ele muito importante.
A gente fala tanto e muitas vezes não diz nada, ou diz muito pouco...
E o silêncio sobre o que soubemos de outras pessoas, geralmente coisas desabonadoras? Será que é fácil para nós mantermos o silêncio sobre os erros e defeitos dos outros?
Silêncio... Uma pausa mais do que necessária para que possamos manter a nossa paz interior, mesmo quando o ruído em torno é constante. Silêncio como pano de fundo para palavras realmente significativas e necessárias. Silêncio como pausa entre momentos de nossas vidas. Descanso e fortalecimento de nossos ideais e crenças. Ponte para o encontro de nós mesmos, no que somos em essência. O silêncio nos permite ser, com mais verdade!
Por Maria Cristina Tanajura
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